Páginas

junho 22, 2012

Sóbrio e ajustado


Desde já aviso, hoje não há nada de novo ou cintilante. Só artigos neutros e já mostrados noutros looks anteriores. Alguns dirão que é monótono, eu chamo-lhe sóbrio. Interprete como a minha sugestão para quem vai pela primeira vez a casa dos futuros sogros. Ou para aqueles dias em que damos tudo para passarmos despercebidos. Não que isso fosse possível assim vestido. Não é vaidade, é a constatação de que 90% dos homens portugueses não se vestiriam assim. Porquê? Por duas razões.


1ª razão: as calças brancas. É quase tabu em Portugal, mas erradamente. O branco dá com tudo. Vista umas calças brancas e é menos uma conjugação para fazer. Que homem não gosta desta simplificação? Estas são as clássicas 501 da Levi's que, para não conhece a numeração da marca, é o seu corte mais clássico. Demasiado clássico para mim que uso as calças mais curtas do que o normal. Na verdade uso-as no comprimento correcto, a maioria dos homens é que as usa compridas demais. As calças devem terminar em cima da pala de um sapato de atacadores. A bainha pode dobrar ligeiramente mas nunca enrugar. As rugas encurtam as pernas e dão um ar descuidado. E a personalização não pode ficar a meio.


Umas calças com o comprimento correcto exigem outra coisa, a correcta largura da perna. O corte da perna das 501 é direito mas o diâmetro da perna masculina é igual na coxa, joelho e tornozelo? Não, não é. A roupa devem seguir o contorno do corpo por isso mandei afunilar a parte inferior das calças. Creio que estas foram reduzidas para 20cm de largura na bainha. Actualmente estabeleci esse valor nos 18cm que me parece ser o valor correcto para a minha fisionomia. Naturalmente não o faço em todas as calças mas de origem este par fazia-me parecer o John Travolta em Saturday night fever. Inadmissível.


Fora o corte das pernas estes jeans são perfeitos. Estive cerca de dez anos sem comprar calças Levi's mas estas são as calças de ganga com mais qualidade que tenho. A ganga tem o grande inconveniente de alargar mas começo a achar que este par não precisará de ser apertado como é costume nas calças de ganga. Para mitigar este problema compro as calças num número que em me fique ligeiramente apertado quando novas. E tento usar as calças umas dez vezes antes da primeira lavagem para elas se formarem ao corpo antes de levarem a tareia da máquina de lavar. Eu  sei, se forem brancas é um desafio usar tantas vezes sem lavar. Existe uma terceira dica, lavar os jeans sempre à mão. Eu passo esta muito obrigado.




2ª razão: o blazer cintado. 90% dos homens usa os blazers um número ou mais acima do correcto. Para quem não recorre a alfaiate, um blazer pronto-a-vestir é essencial que fique bem nos ombros porque é a correcção mais dispendiosa e trabalhoso de se fazer. A costura deve ficar exactamente onde o ombro termina e o braço começa. Se não lhe ficar bem no ombro esqueça, há mais marés que marinheiros. Recomendo que escolha o número mais pequeno com que consiga mexer os braços, mesmo que em certa posições sinta tensão no tecido. Não vai usar o blazer para jogar basquetebol ou trabalhar no campo. A mobilidade dos braços não é prioritária, a silhueta dos ombros sim. 


Já não usava este blazer há algumas semanas (ver aqui) mas com a baixa de temperatura desta semana retirei-o do armário. É da Cortefiel e é talvez o meu blazer melhor acabado. O corte original era direito e disforme mas, depois de cintado, ganhou esta forma bem mais elegante.


As mangas também foram subidas para a altura certa. Um blazer bem ajustado revela a mesma largura de tecido na gola e nas mangas da camisa. Vestir bem é acima de tudo uma questão de harmonia e equilíbrio. Assim, as mangas do blazer devem bater 1 cm acima da linha do pulso para revelarem cerca de 2cm da manga da camisa (repare na última foto). Nem sempre se consegue um resultado assim, creio mesmo que este é o meu blazer melhor ajustado. Mas por ser tão raro faz toda a diferença.


Para se conseguir a simetria nas duas mangas dificultada pelo uso do relógio (veja a primeira foto) pode-se sempre adoptar o truque de Giovanni Agnelli de usar o relógio por cima da camisa.


O ajuste da roupa é o aspecto mais impactante num homem bem vestido como escrevi há uns tempos num artigo reproduzido aqui pela betrend.pt. Até um outfit tão sóbrio quanto este fica bem. No fundo, mais vale um fato Zara ajustado do que um Zegna largo. Acho que até a sua futura sogra concordará.


8 comentários:

  1. As calças de ganga mantêm a sua forma original sem alargarem se forem sempre lavadas a frio. Desde que o comecei a fazer nunca mais tive esse problema.

    ResponderExcluir
  2. Parabéns pelo texto. Não podia estar mais de acordo com a frase "... mais vale um fato Zara ajustado do que um Zegna largo". Apesar de achar que um "Zegna" não é um "Zara"...lol.
    Abç.

    ResponderExcluir
  3. Pois eu discordo em absoluto. Um fato Zegna tem sempre qualidade (sou insuspeito porque não tenho nenhum) e pode sempre ser ajustado. Um da Zara, por muito ajustadinho que seja, falta-lhe sempre a qualidade, coisa essencial. E isso nota-se. Repara que têm sempre um ar pindérico.
    Quanto ao tal truque do Agnelli, acho-o um pouco ridículo, mas enfim, o homem é que é um ícone da moda masculina

    ResponderExcluir
  4. Tal como o Vic eu também sou insuspeito (não tenho nenhum fato "Zara"), e apesar de acreditar na qualidade das grandes marcas e na diferença que faz um bom alfaiate também acredito que hoje em dia, com a quantidade de marcas no mercado (mais acessíveis) e com alguns "ajustes" podemos ter um bom casaco/fato e com isso marcar a diferença.

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Pois, eu da Zara também não tenho nenhum. E é verdade, há coisas mais acessíveis e perfeitamente aceitáveis. Não sou fã do Zegna, mas considero os preços exagerados. Já temos em Portugal coisas de muito boa qualidade, como a Dielmar, que tem alfaiataria por medida. Ou mesmo em Espanha, que não produz só Zara. Actualmente, até a Maximo Dutti tem alfaiataria personalizada e que me parece razoável

      Excluir
  5. Eu também não tenho nenhum fato da Zara e também acho que devemos investir em algo um pouco melhor, pelo menos se for um fato essencial numa cor neutra (marinho, cinza escuro, castanho).

    Mas só quis dizer que mais vale algo mais barato e ajustado do que uma coisa cara e larga. Naturalmente parece-me pouco razoável comprar um fato Zegna e não o ajustar.

    A escolha das duas marcas para a comparação teve como único critério, para além dos preços relativos, o facto do nome de ambas começar por Z.

    ResponderExcluir
  6. Aqui no Brasil a Zara não tem dos acabamentos o pior. Há outras redes bem mais medíocres. Obviamente, não há possível comparação entre qualidade de tecidos, acabamento e caimento quando se compara duas marcas tão distantes em propostas de operação e com públicos tão distintos. Mas entendi sua 'brincadeira' proposta por conta dos Z's iniciais.
    Tenho dois ternos Zara e nenhum Zegna (mas tive contato com os produtos Zegna ao trabalhar como Concièrge no Shopping Iguatemi - um dos mais luxuosos e exclusivos de São Paulo - e desenvolver certas parcerias profissionais com a marca.), mas o único ponto em que os ternos Zara deixam realmente a desejar é o revestimento interno que são feitos em tecido acrílico e não em seda natural, como estamos acostumados a ver em ternos de alta qualidade. Se houvesse uma possibilidade entre comprar um Zegna por um preço especial entretanto que seja inajustável (caso seja uma númeração bem acima da sua,não se pode ajustar. É impossível devido ao perigo de estragar a estrutura do terno) ou comprar um zara em tamanho ajustado para a pessoa que o usará, concorco com sua frase: mais vale um fato Zara ajustado do que um Zegna largo. Abs desde o Brasil, Bruno.
    PS: Descobri seu blog há poucos dias e achei-o de grande valia. Parabéns!

    ResponderExcluir