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novembro 30, 2012

A moda do camuflado

Há uns meses previ que a moda do camuflado recuperado pelo Nick Wooster ia chegar mais cedo ou mais tarde. Ela aí está com a força de um tornado. Para quem quiser vestir camuflado da cabeça aos pés não tem de procurar muito. Mas, como o tornado, acho que o padrão camuflado irá desaparecer tão depressa quanto chegou. Daqui a um ano já não haverá nem brisa no ar. Isso significa que não abraço este entusiasmo? Claro que sim, mas com a moderação que a curta duração dela me parece aconselhar. Comprei estes boxers camo que, na altura em que esta moda passar, já estarão perto de ser substituídos. 

novembro 28, 2012

Os sapatos perfeitos

Para mim, no que toca a vestuário, é nos sapatos que é mais difícil encontrar aquilo que realmente gostamos. Usando uma expressão popular nos dias que correm, no que toca a sapatos existe uma fina linha entre o admirável e o dispensável. Nos sapatos os detalhes são tudo e às vezes bastam pequenos milímetros de diferença para que se perca a harmonia. Ainda para mais porque os sapatos são das peças mais caras que podemos adquirir e por isso vale a pena apostar aquilo que nos faz ter vontade de calçar.

Quando nos cruzamos com os sapatos perfeitos paramos e admiramos.Com pena minha não me cruzei fisicamente com estes apenas vi nesta foto. Não lhe alterava nada, estão perfeitos assim.

A perfeição deles vem da coerência entre todos os detalhes mas também do resultado final. Aplica-se a estes sapatos uma expressão inglesa de que gosto bastante: o todo é maior do que a soma das suas partes. E que partes são essas? Que coerência existe entre elas?  São uns oxford (o tipo mais formal de sapato) mas num tom cognac desportivo que lhes dão uma formalidade intermédia.

Os detalhes acompanham. O formato da ponta não é alongado (formal) nem arredondado (informal). Não é plain toe (formal) nem wing tip (informal) mas cap toe de formalidade intermédia, bem rematada com uma discreta linha brogue, novamente. A sola tem uma espessura média que completa correctamente a parte superior.

O resultado final é um par muito versátil que pode ser usado com um fato durante a semana e uns jeans no sábado. São simultâneamente elegantes e rudes, muito masculinos. Se vivêssemos num mundo mais parco e maçador em que só pudéssemos ter um par de sapatos a minha escolha andaria por aqui.

novembro 23, 2012

Explorar a paleta de cortes em camisolas e cardigans

É acertado basear o guarda-fato em cores neutras mas para quebrar a monotonia este também deve ser pontuado com peças de cores diferentes. É mais fácil de o fazer no verão dado que o sol apela ao uso de cores mais claras e alegres. Porém o inverno tem um trunfo para que se possa inventar nas cores, as camisolas, cardigans e coletes de malha.


Não sei explicar a razão mas estas peças são propícias à diversificação de cores. Mas nem todas, quanto a mim nos cardigans e camisolas de malha grossa, eventualmente com golas envolventes e fecho com alamares deve haver parcimónia na escolha de cores. Estas versões mais grossas serão usadas como camada exterior e, a menos que o objectivo seja ser reconhecido a dezenas de metros de distância, numa cor discreta ficam melhor. Neste post falarei apenas de camisolas, coletes e cardigans de malha fina pensados para serem usados como camada intermédia, isto é, sobre uma t-shirt ou camisa e por baixo de uma casaco ou blazer.


A opção por um dos estilos dependerá do gosto de cada um e da formalidade que se pretende. Os cardigans na versão com mangas ou sem (colete) são mais formais do que as camisolas de gola em V, que por sua vez são mais formais do que as camisolas de gola redonda. Pessoalmente não gosto muito de ver camisola de gola redonda com camisa por baixo, apenas com uma t-shirt, de preferência decotada para que fique invisível.


Em termos de cor, e dependerá sempre dos gostos, a base é o azul marinho e o cinza claro. Cardigans e camisolas ficam mais versáteis nestes dois tons e por isso são aconselháveis como primeiras opções. Mas se quiser mostrar algum arrojo deixo aqui duas sugestões ainda dentro dos tons neutros (verde garrafa e vermelho sangue) e outras mais corajosas (turquesa e laranja) para quem pretende sair do óbvio. Um vez que o sol actualmente se põe tão cedo é difícil conseguir ter fotos minhas pelo que, infelizmente, me socorri da net para ilustrar o texto.


A regra básica quando se usam peças fora dos tons habituais é procurar manter o resto do conjunto tão neutro quanto possível. As restantes peças neutras permitem ancorar o look num nível de sobriedade aceitável e destacar convenientemente a cor do cardigan/camisola. Esta dica é particularmente importante nas opções mais radicais como o turquesa ou o laranja.

novembro 19, 2012

O transitório mundo da moda

"É isto que se vai usar neste inverno" ou "é esta a moda do próximo verão" é uma expressão habitual em especialistas e imprensa dedicada à moda. Mas paremos para pensar no que ela implica. Quem decide que isto se vai usar ou vai ser moda esta temporada? Ninguém em concreto. Ora, porque razão então é que eu vou seguir conselhos de quem não conheço, na verdade de quem nem sequer tem rosto? E se se vai usar neste inverno não se usou no anterior nem se usará no próximo. Sendo assim o que é que eu faço à roupa, vendo, dou? Não é muito racional e potencialmente dispendioso

A moda é uma ideia que nasceu no século passado e que visou tornar um consumo plurianual em sazonal. Foi ditado por razões económicas, não estéticas. É um apelo ao consumismo, é uma pressão sobre as pessoas no sentido de que estas comprem aquilo que não precisam nem querem. Por alguma razão os seguidores da moda não são conhecidos em inglês como fashion leader ou fashion cool mas fashion victim.

Há quem diga que aquilo que se vê na passerelle não serve para ser vestido, que é arte. Concedo que assim seja, ainda que a roupa seja um mau suporte para a arte por limitar a liberdade criativa. Numa tela ou página em branco não há barreiras para a criação livre mas a roupa restringe-a. Na passerelle até podemos ver arte mas no máximo é uma arte contida e enclausurada pelas debilidades da matéria trabalhada.

Se o mundo da moda é arte então como se faz a ponte para aquilo que vestimos? Roupa é design. Por isso se diz que a moda não é para se vestir, é para inspirar. Para a roupa feminina até poderá ter alguma influência mas na masculina não. A roupa, principalmente masculina, tem uma função bem delineada. Os homens olham para as roupa quase como olham para os carros ou as ferramentas,  form follows function, e por isso não espanta que a roupa masculina encontre muito mais inspiração nos militares do que nos criadores de moda.


Nem aquilo que usamos encontra inspiração no que os criadores de moda fazem nem aquilo que gostamos de usar sofre revoluções semestrais como o mundo da moda gostaria que acontecesse. O gosto é algo que evolui de forma lenta e silenciosa sem clivagens. O nosso gosto é inspirado pelo que nos rodeia, no dia-a-dia, e vai mudando devagar, quase sem darmos por isso. Acho divertido que os exemplos de estilo masculino que as revistas de moda gostam muitas vezes de dar sejam George Clooney, Jude Law ou Brad Pitt, homens que têm uma forma de vestir bastante convencional, bem longe daquilo a que nos querem fazer querer estar na moda.

O mundo da moda é cheio de contradições e a noção da sua própria dimensão é outra delas. Diz-se que o mundo da moda move biliões mas não é bem assim. Na lista dos dez homens mais ricos está em 4º Bernard Arnault dono do grupo LVMH que detém entre outras marcas de luxo a Louis Vuitton, em 5º Armando Ortega (Inditex) e 6º Stefan Person (H&M). Estes homens não pertencem ao mundo da moda. A Louis Vuitton aposta na tradição e nos valores clássicos, o contrário da vanguarda cara à moda. E o sucesso da Zara e da H&M consiste em dar aos consumidores aquilo que eles querem, precisamente o inverso da moda que ambiciona moldar a vontade destes. A inspiração para as colecções da Zara e da H&M vem das ruas não das passerelles. O mundo da moda é vasto mas muito menos do que se proclama. E acredito (não tenho números para confirmar) que o seu sustento venha muito mais da venda de revistas, óculos e perfumes do que de roupa.

Nada tenho conta o mundo da moda. É uma actividade económica tão válida quanto outra. Mas nunca tive a ilusão de que a moda influencia a forma como nos vestimos. Com a maturidade creio que todas as pessoas  com gosto procuram vestir com um estilo subtil e perene, longe da transitoriedade e notoriedade perseguida pelo mundo da moda.

novembro 14, 2012

Vamos falar de fibras

As percentagens são discutíveis, mas uma peça de roupa é definida em 50% pelo corte, 25% pelos detalhes/cor/padrão e 25% pelo tecido.

Os homens, erradamente, dão pouca importância ao corte mas, como tenho insistido, é aperfeiçoando aí que melhor se consegue atingir o objectivo "andar bem vestido".

Os detalhes (botões, fechos, golas) cores e padrões da roupa são mais valorizados porque traduzem mais a personalidade de cada um. Ao passo que o corte e o tecido da roupa obedece a directrizes mais objectivas e rígidas, no que toca aos detalhes e cores a subjectividade do gosto deve ser protagonista. Ainda que regras básicas, como padrões ou bolsos serem mais informais do que peças lisas, devam ser atendidas é na cor e nos detalhes da roupa que se forja a imagem estética que queremos passar.

Ficam a faltar as fibras que compõem os tecidos. A grande maioria dos homens não tem consciência da diversidade de fibras que podem ser usadas para fazer roupa e acredito que a maioria nunca olhe para a etiqueta antes de comprar. Mas se o sexo masculino não é capaz de dissertar sobre fibras qualquer ser humano é capaz de as distinguir pelo tacto e visão.

Quando se é adolescente e se vestem roupas disformes, com bonecos e frases, de cores/padrões garridos que rapidamente se deixa de gostar o tecido de que são feitas tem menos relevância. Mas quando se amadurece e o estilo, o conforto e intemporalidade do guarda-roupa deixam de ser palavras vãs, os tecidos começam a importar. E o guarda-roupa de um homem só deve ter roupa feita com fibras naturais (linho, algodão, lã, seda, etc.). As fibras sintéticas (poliéster, viscose, nylon, etc) não têm o mesmo tacto, aspecto, durabilidade ou capacidade de se moldarem ao corpo de uma fibra natural. As roupas composta por fibras sintéticas nunca caem tão bem no corpo, não se prestam a serem ajustadas por um alfaiate/costureira da mesma forma nem têm um aspecto tão luxuoso.

Claro que já estará a comentar que o luxo vem acompanhado do preço. É verdade que não há milagres, que   uma gravata 100% caxemira tem de custar mais do que uma 100% poliéster. Mas atenção que muitas marcas vendem roupa com misturas de fibras naturais e sintéticas pelo preço que outras pedem pelo mesmo artigo em tecido completamente natural.

Defendo ter menos roupa, mais sóbria e natural do que muita sintética. Vejamos o exemplo de um cardigan azul marinho, sem gola, sem bolsos e com botões castanho ou azul escuros. É uma peça clássica, intemporal que sempre se usou e sempre se usará. Que sentido faz comprar um cardigan assim se não for 100% natural? Se quiser poupar espere pelas promoções, todos os anos muitas marcas têm cardigans azul marinho nas suas colecções. Se o comprar com viscose ou poliéster, mesmo que numa percentagem baixa do tecido, sempre que se sentar no sofá com ele para ver um filme vai arrepender-se de o ter feito.

Dentro das fibras naturais há margem para o nosso gosto na hora de optar pois cada fibra natural tem as suas características e personalidade. O linho e algodão são mais informais do que a lã e seda. O linho mais fresco próprio para o verão e a lã mais quente adaptada ao inverno. Mais do que a maioria dos homens se possa aperceber conscientemente, o mesmo casaco (corte, cor, estilo) feito em algodão ou lã fica diferente. E existem ainda as misturas entre fibras naturais para mesclar características. Por exemplo, as camisolas em lã/seda têm um aspecto lustroso e elegante e os blazers em linho/algodão um visual descontraído e confortável.

Olhar para a etiqueta da composição deve ser algo tão normal de se fazer quando se compra roupa como olhar para a do preço. Até gosto de passar o tecido entre os dedos e tentar adivinhar a composição antes de confirmar na etiqueta.

novembro 13, 2012

Cores nos pés

A chegada dos dias frios fez-me perceber que precisava de renovar a gaveta das meias. Aos tradicionais tons escuros de cinza, azul e castanho adicionei pares que, não deixando de ser neutros, introduzem alguma cor e complementam outras peças do meu guarda-fato.